segunda-feira, 3 de janeiro de 2011

Cristãos Sem Igrejas: A Volta ao Lar




Este artigo é um ensaio sobre um tema ainda não esclarecido e resolvido: igreja nas casas. Ensaio porque é um tentativa do autor de colocar em ordem seus pensamentos, e que, para tanto precisa da compreensão e da ajuda do leitor.
O título acima é apenas para que o leitor entenda o sentido deste artigo, porque, na realidade não se pode separar o cristão da igreja. Se é cristão ele é da igreja. No sentido exato não deveria haver a separação, porque igreja e cristãos são amalgamados e, portanto inseparáveis. Mas, como o conceito de igreja ainda se restringe a locais, o título acima será entendido pelos que assim entendem, e pelos que têm revelação do verdadeiro sentido de igreja.
Na realidade quero escrever sobre um novo tipo de cristão, que desistiu de freqüentar os cultos de igrejas e que vem aumentando significativamente. Até porque igreja é igreja, sejam três ou centenas de irmãos reunidos estes formam a igreja. Como bem afirmou Inácio de Antioquia lá pelo ano 112, um dos pais da igreja do primeiro século: “Onde existem dois ou três reunidos em Nome de Jesus aí está a verdadeira igreja católica”, usando a palavra católica que quer dizer universal.
Percebo a cada dia, conversando com pessoas, lendo revistas, jornais e acessando a Internet um aumento expressivo de cristãos desiludidos com a igreja e que decidiram viver a vida cristã em casa. Alguns o fizeram conscientemente de que este é caminho, outros o fizeram por desespero de causa. Essa multidão de crentes se agarra a vídeos, cds e cultos transmitidos pela WEB tentando encontrar nesses meios uma palavra de Deus que lhes alimente, sacie sua sede e lhes fale ao coração. Conseqüentemente, os de maior poder aquisitivo acessam a Internet e a canais de TV pagos para assistirem os programas evangélicos, enquanto os menos privilegiados acessam a noite e nos fins de semana os canais abertos. Parte deles, conscientes de que precisam dar dízimos e ofertas, alimentam com seus recursos a rede televisiva evangélica e as editoras dos pregadores comprando praticamente tudo o que lhes é oferecido.
Essa troca de valores – de sair da igreja templo onde deixavam seus dízimos e ofertas pelos programas de TV e compra de material evangélico – proporciona que os apresentadores angariem recursos através de pedidos de ofertas e venda de material especialmente com os cristãos sem-igreja. Não existe no Brasil uma pesquisa idônea para se saber o número desses cristãos sem-igrejas que optaram por viver a vida cristã separadamente. Existem evidências, isto sim, de que isto esteja ocorrendo em vários países.
Este artigo analisará o tema sob dois aspectos. No primeiro abordo os aspectos negativos que levaram as pessoas a abandonar os cultos e a se refugiarem em casa. Na segunda parte apresento os aspectos positivos dos que tiveram revelação de Deus para assumir o verdadeiro caráter da igreja caseira.

Causas:

Tentarei apontar algumas causas para este desvio comportamental.
Frustração. Basicamente o que vem acontecendo é fruto de uma grande frustração sobre os rumos da vida religiosa das igrejas e dos descaminhos da vida cristã. Refletindo o tema quero apontar alguns fatores que estão levando os irmãos em Cristo a se frustrarem cada vez mais. O que escrevo não está em ordem seqüencial, são apenas pensamentos e sugestões que o leitor deve analisar consigo mesmo.
1. Desilusão com a estrutura eclesiástica. 
Uma das grandes frustrações e desilusões tem a ver com a estrutura eclesiástica de algumas igrejas e denominações. Quando me refiro a igreja, separadamente de denominações refiro-me ao fato de que muitas igrejas locais não são denominações no sentido amplo da palavra, mas o são no sentido restrito, quer dizer, não estão ligadas a convenções, concílios, presbitérios ou sínodos através de laços estatutários; quanto ao sentido restrito refiro-me ao fato de que muitas delas não possuem estatutos claros. Ou o estatuto está na cabeça do líder, ou é desconhecido dos membros da igreja, o que sempre implica que possuem governos mais rígidos do que aquelas igrejas que têm estatutos. Estes últimos são piores que os primeiros.
Algumas denominações mantêm domínio e restringem a liberdade operacional das igrejas locais e de seus líderes, seja através de uma diretoria de convenção ou pela forte liderança pessoal de alguém, tiram ou colocam pastores sobre as igrejas sem sequer respeitar a liderança local. Pastores são colocados à frente da igreja por força de convenções, juntas, presbitérios e sínodos; cujas mesas diretoras esperam o momento de dividir o espólio da igreja local quando o pastor comete um deslize ou venha a falecer. A igreja é obrigada a receber pastores desconhecidos cuja vida ministerial é de completo desconhecimento dos irmãos. Algumas denominações agem assim, e, seus membros, quando esclarecidos recorrem a outros grupos, e, por conseguinte frustram-se novamente. O primeiro sintoma de um crente inconformado com sua liderança é que ele retém seus dízimos e ofertas ou entrega-o a alguém ou a outro grupo a seu bel-prazer.
O mesmo não acontece com grande parte das igrejas locais sólidas que não fazem parte de organização alguma. Estas operam de maneira suave, sem muita burocracia e sem muita carga sobre as pessoas.
2. Desilusão com a liderança eclesiástica.
Certas pessoas, às vezes, não têm opção nas cidades onde residem. Costumam encontrar igrejas paradoxais, isto é, opostas umas às outras. Em algumas, deparam-se com pastores demasiadamente retóricos, com pregações aristotélicas sem respostas e soluções aos anelos de seus membros, e, se vão a outra igreja desencantam-se com pastores que pecam pela falta de conhecimento bíblico e exegético. Percebe-se em muitos pastores a ausência de uma pregação fundamentalmente bíblica. Pregadores que só usam um texto a pretexto de dizerem alguma coisa.
Alie-se tudo isto à grande desilusão que as igrejas têm com líderes e pastores por quem nutriam grande respeito e os descobrem vivendo em pecados, em roubos e falcatruas além da falta de transparência quanto ao uso dos recursos financeiros. O aparente enriquecimento de alguns que vivem exclusivamente do ministério – não os que possuem outros meios, empresas, etc. – faz as pessoas se afastarem e a buscarem refúgio em suas casas. Alguns líderes enriquecem, sim, com os dízimos e ofertas dos irmãos. Quero chamar a atenção do leitor para dois aspectos deste ponto.
Primeiro. 
- Autoritarismo.
Ainda existe no Brasil resquício de uma cultura e civilização medieval, isto é, a cultura do autoritarismo, em que as pessoas gostam de gente autoritária e sentem-se seguras vivendo sob a tutela delas. Acostumadas que foram a viver debaixo da autoridade de fazendeiros, padres, prefeitos e “coronéis”, tais pessoas sentem segurança debaixo da mão de ferro de um pastor, líder ou de um discipulador ditador e manipulador. Alguns líderes denominacionais impõem um caminho extremamente estreito – que eles mesmos não conseguiriam caminhar por ele – mas que é aceito pelo povo que se sente seguro quando é proibido de fazer isto ou aquilo. Um exemplo, apenas: Proíbem que membros da igreja usem televisão, e eles mesmos têm a maior tela plana em casa! Um líder me confidenciou: este povo se sente feliz e seguro quando é conduzido a cabresto! Com proibições. E exclusões. E reprimendas públicas. Um amigo me falou que alguns cristãos sentem-se bem com o masoquismo espiritual, porque gostam de “apanhar” e de serem xingados do púlpito, e ainda se alegram, exclamando: “Fala Deus! Bate mais, Papai!”. A antiga senzala apenas mudou de lugar. Certos líderes denominacionais são verdadeiros ditadores, temidos pelo povo que os respeita não como homens de Deus, mas porque temem por seu destino espiritual. São os pastores amaldiçoadores. Assunto para outro artigo.
Segundo:
- Liberdade cristã. Mas existem os que aprenderam a ser livres e que descobriram que a vida cristã é feita de liberdade em Cristo, e que Cristo é a regra e o padrão para todos; aqueles que aprendem que tudo lhes é lícito, mas nem tudo lhes convêm, e que aceitam submeter-se ao jugo de Cristo apenas, já não conseguem pôr seu pescoço em cabrestos de homens. Aceitam o jugo de Cristo, não o de homens. Geralmente este tipo de controle que é imposto por líderes de todos os segmentos da igreja – estatutário, discipulado, etc., é fruto de líderes que estão preocupados, não com o bem-estar da igreja, mas consigo mesmos. Crentes maduros em Cristo possuem uma percepção da vida cristã mais elevada e estão cada vez mais fugindo das grandes senzalas da fé.
Terceiro:
-  Falta de conteúdo litúrgico.
Distorção das doutrinas básicas da fé. Desvios doutrinários. As pessoas estão se cansando de certas práticas religiosas, como receber unção disto e unção daquilo. Descobrem, depois, que a vida continua igual, sem respostas e sem soluções. Agregue-se a isto as falsas profecias dadas por profetas e profetizas e pregadores sapatinho de fogo, que só fazem barulho, confundindo gritos com poder de Deus. Pessoas sadias começam a fugir disto tudo. Além de que estão se cansando também dos cultos barulhentos, de louvor e adoração demorados e sem a graça divina, etc. O culto robótico em que as pessoas são motivadas a fazerem coisas, a dizerem, a abraçarem, como se isto resolvesse os dilemas do povo passam a ser evitados.

Quarto:
- Ausência de relacionamentos saudáveis
A frustração começa, especialmente com igrejas em que existem relacionamentos quebrados; igrejas que carecem de expressão familiar na vida dos irmãos. Pode-se observar que as pessoas fogem de dois tipos de igrejas: as que não têm relacionamento algum entre os membros, em que as pessoas entram e saem sem sequer serem notadas, e as que têm um relacionamento social intenso, mas não o do tipo bíblico. Porque no relacionamento bíblico tudo é feito com amor, e os mais de trinta mandamentos de reciprocidade são severamente observados por todos. No tipo de relacionamento não bíblico as pessoas sentem-se constrangidas, porque são obrigadas a abrir suas vidas ao discipulador, ao líder de célula, ao pastor e, com medo de perderem sua intimidade pessoal e familiar fogem para suas casas. Elas buscam o relacionamento cristão verdadeiro e não o relacionamento constrangedor e dominador, e, como não o encontram em algumas igrejas tradicionais, e se desiludem com o que lhes é apresentado em outros grupos, preferem ficar em casa a serem expostos a qualquer pessoa da igreja. Como falou uma irmã na primeira reunião de discipulado para sua nova discípula: Você tem que abrir sua vida pra mim! E como falou o pastor que tentava dar cobertura a outro pastor: Não esconda nada de mim.
Esses dois tipos de igrejas, uma sem relacionamento e a outra com relacionamentos não bíblicos vêm gerando uma nova safra de crentes em constante depressão espiritual. Por isso, quando se deparam com outras pessoas que possuem os mesmos dilemas, começam com elas a se reunir.

Quinto:
- Fuga para as casas por questão de revelação.
Passo a expor agora um outro aspecto que tem levado muita gente a abandonar a igreja institucionalizada e a se reunir em casas. Não se reúnem por fuga conforme os itens expostos anteriormente, mas por revelação.
Descobriram alguns irmãos que é possível viver a vida cristã longe do emaranhado eclesiástico, comprometendo-se única e exclusivamente com Jesus Cristo. Reúnem-se em suas casas sob a liderança do dono da casa, de uma mulher-esposa, de alguém mais maduro na fé; estudam as escrituras, oram, comungam da mesa do Senhor, cientes de que precisam dos demais irmãos do corpo de Cristo. Assim, juntos visitam um grupo, depois vão ao culto de outra igreja, e recolhem-se novamente ao ninho onde abrigam sua fé contra os ataques que mencionamos neste artigo.
Conheço muitos irmãos que agem assim não por desilusão, mas porque aprenderam a ser cristãos comprometidos com Cristo e com seus irmãos na fé, sem precisar se desgastar com as estruturas arcaicas e rígidas de denominações e de igrejas locais.
Por terem líderes que são trabalhadores normais e que não precisam recorrer para seu sustento dos dízimos e das ofertas, nem sustentar as estruturas de organização alguma, esses irmãos recolhem dízimos e ofertas e ajudam alguma instituição de caridade, como asilos, abrigos de crianças, casas de recuperação de viciados, ajudam pastores em necessidade, enviam para organizações missionárias sérias, socorrem obreiros, e vivem a simplicidade de sua fé em Cristo. Descobrem que seu dinheiro é mais bem utilizado com pessoas do que com estruturas materiais, como prédios ou templos.
Como tais irmãos precisam de um mínimo de estrutura organizacional para funcionar, porque o trabalho consiste em coordenar dias de reuniões, estudos da palavra, tempo de oração, etc., a vida da igreja se torna leve e rica em relacionamentos. A pergunta difícil de ser respondida é: Será possível viver a vida da igreja sem precisar se tornar membro de igrejas locais institucionalizadas?
Esta questão – ser ou não parte da igreja institucionalizada – foi enfrentada e solucionada pelos irmãos da Idade Média. Numa época em que havia apenas uma igreja na terra – a igreja católica romana – os Irmãos, sem entrar em conflito com a estrutura romana, porque seriam levados à fogueira, passaram a se reunir em casas sem provocar cisão alguma com o “sistema religioso”. Por isso passaram a ser conhecidos já ao redor de 1300 d.C como Irmãos. Os Lolardos, seguidores de Wycliff eram chamados de Irmãos. Portanto, séculos antes da Reforma de Lutero os Irmãos cultuavam a Deus nas aldeias e vilas distantes. Nos Irmãos está a origem de alguns movimentos dos dias de hoje como os Menonitas, os Batistas, a Congregação Cristã e as Assembléias de Deus.
Lutero não entendeu o que Deus estava fazendo naquela época, e perseguiu esses Irmãos que já batizavam em águas, estudavam as escrituras, tinham estrutura de governo de presbíteros e se reuniam para tomar a ceia do Senhor. Os mesmos Irmãos foram mais tarde chamados de Menonitas, devido ao trabalho de Simon Mennon que viajou por toda a Europa fortalecendo e ajudando esses Irmãos perseguidos pelo sistema romano e pela nova igreja de Lutero. E chamados de anabatistas pelos seguidores de Lutero. Mais tarde, conhecidos como moravianos, porque fixaram residência na Moravia.
A igreja pentecostal não deve sua existência à Reforma de Lutero – os luteranos e presbiterianos, sim – porque a origem da Assembléia de Deus, da Congregação Cristã e dos Batistas, as três grandes denominações que foram iniciadas no Brasil por missionários, está na linhagem dos Irmãos que viveram séculos antes da Reforma. (A propósito os primeiros missionários que fundaram a Assembléia de Deus, Gunnar Vingren e Daniel Berg, e Luigi Francescon que fundou a Congregação Cristã receberam imposição de mãos para a obra missionária das mãos de um mesmo homem, W. H. Durhan que seria pastor da Igreja Batista dos Irmãos em Chicago). A Reforma de Lutero não provocou a existência desses grupos, porque a linha de renovação dos Irmãos passa distante dos Luteranos e Presbiterianos. Sobre isto tenho vários artigos escritos e pesquisas históricas completas. Quando a Reforma começou havia na Europa cerca de 30 mil grupos de irmãos reunindo-se em casas. Viviam fora do sistema religioso da época e não aceitaram o novo sistema religioso de Lutero, por isso foram por ele perseguidos.
Os grandes movimentos de hoje começaram nas casas, com cristãos inconformados com o sistema romano. No Brasil as Assembléias de Deus tinham como ponto de pregação os lares, e deve a isto a força de seu crescimento.

Conclusão:

Percebe-se que existe nos dias de hoje a mesma tendência da época de Wiclyff na Inglaterra e de John Huss em Praga. Insatisfeitos com a estrutura eclesiástica da igreja desses dias, muitos irmãos passaram a se reunir em casas para cultuar a Deus e estudar a palavra. É bem possível que surja uma nova igreja sem estrutura organizacional, de cunho apostólico que se reúna para a comunhão, adoração e pregação da palavra de Deus. Não estou sugerindo que a volta aos lares seja a solução, porque de nada adianta ter igreja nos lares sem que se viva a vida de igreja. Não adianta trazer a estrutura de cultos em templos e salões para dentro dos lares. O que fará a diferença será a vida de comunhão e reuniões com propósito, que resumo nos seguintes tópicos:
  1. A igreja nas casas tem que manter o foco na missão estabelecida por Jesus que é a evangelização mundial; o estabelecimento do reino de Deus na terra; a conquista de pessoas para o reino de Deus. Negligenciar sua missão a transformará num clube de apoio, em um grupo social como os clubes Rotary e Lions, e nunca em igreja.
  2. A igreja nas casas tem que estabelecer como meta o surgimento e estabelecimento da família de Deus na terra. Igreja é feita de relacionamentos, como uma grande família. O propósito de Deus é o de ter uma família de muitos filhos semelhantes a Jesus.
  3. Tem que se tornar igreja adoradora no seu aspecto mais amplo: adoração é estilo de vida. Ela é adoradora quando serve a Deus e aos homens. A missão da igreja na terra é missão de serviço, porque adoração não é apenas música e louvor como se vê nos cultos em templos e salões. A verdadeira adoração que agrada a Deus é a vida de serviço. Os pobres de nossas cidades serão os grandes beneficiários desta vida de adoração, porque, negligenciados e iludidos pelos políticos terão na igreja e em Deus seu socorro.
  4. A igreja no lar tem que reformar o conceito atual de ministério. Todos os membros são ministros de Jesus Cristo. A única diferença está na questão de governo. Os líderes são levantados dentro da igreja; não vêm de fora para dentro. A igreja mesma levantará novos líderes que se multiplicarão em toda a cidade.
Quem sabe, agindo assim, tomaríamos o rumo de uma nova reforma? A partir daí é que surgirão os verdadeiros apóstolos, homens de fundamentação bíblica, descomprometidos com o sistema institucional que coordenarão entre si, sem qualquer ambição ministerial o funcionamento da igreja nos lares. Mas, este é um tema que escreverei à parte. Porque os novos apóstolos serão homens de revelação, sem ambição pessoal que trabalham unicamente para o reino de Deus e não para suas instituições ou para si mesmos.
No entanto uma questão fica sem ser resolvida: Como essa “nova” igreja se reunirá e se integrará ao corpo de Cristo em cada cidade? Pelo que se vê nas chamadas igrejas locais ligadas a alguns ministérios, tanto estrangeiros quanto de pastores brasileiros, esta questão não foi resolvida. São amados irmãos que têm uma visão clara da igreja na cidade, mas que diferença alguma fazem no meio social. Além de que não se integram ao corpo de Cristo – admitem indiretamente que eles são o corpo.
É parar e pensar! O assunto é posto aqui para debates e sugestões. Sua carta é bem-vinda.
Que Jesus Cristo seja louvado

por: João A. de Souza Filho

A Reforma ou meia reforma

Ao tempo da Reforma, a igreja já havia consolidado o seu poder, de modo que dificilmente havia qualquer linha divisória entre a Igreja e o estado. A hierarquia eclesiástica governava com mão de ferro. Quando a Reforma Protestante teve início, havia quatro movimentos principais: o Luteranismo, o Calvinismo, o Anabatista e o Anglicano. Cada um destes recuperou algumas das verdades perdidas, mas três desses quatro se tornaram igrejas estatais e todos continuaram a definir a igreja em termos de pessoas reunindo-se num edifício, sendo obrigadas a receber os sacramentos e as instruções do clero. Os reformadores recuperaram o “sacerdócio dos crentes”, no sentido de que a salvação é um assunto pessoal e a Bíblia tornou-se acessível ao crente individual. Mas as igrejas protestantes continuaram a limitar a atividade mais importante somente ao clero. O leigo continuou relegado ao papel de participante passivo.  O crente tem sido dirigido pela classe clerical até ao dia de hoje, com raras exceções, tais como a dos “Brethren”, porém, até mesmo estes já se transformaram numa sacola de misturas.
        Conquanto a Reforma tenha recuperado o “sacerdócio dos crentes”, no sentido de terem estes um relacionamento direto com o Senhor [Hebreus 4:16], ela fracassou em restaurar a visão corporativa da Igreja, a qual permite que todos os crentes funcionem realmente como sacerdotes. “Cada ano, no ‘Domingo da Reforma’, é urgentemente proclamado que a Reforma venceu a batalha pelo sacerdócio dos crentes. O desejo é certamente o pai do pensamento, mas ainda falamos desejos e não fatos. As exatas congregações que escutam a proclamação negam-na pela sua política, sua vida congregacional e até mesmo pela sua arquitetura da verdade que afirmam esposar... Nossas palavras traem as celebrações de vitória do nosso Domingo da Reforma. A batalha não foi ganha ainda; não ocupamos o campo onde o sacerdócio dos crentes seja um fato” (Joseph Higinbotham & Paul Patton, “Searching Together”, Vol. 13:2). E se pessoas como Bill McCartney, fundador dos Promise Keepers, tem sua maneira, o laicato deveria render-se novamente, de maneira total, ao clero profissional.  O fundador McCartney grita sob aplausos: “Aqui estou: os Promise Keepers não se importam se vocês são católicos”. Ele também encoraja o laicato a voltar aos seus pastores porque: “Não podemos dividir corretamente a palavra da verdade. Precisamos de vocês para nos ensinarem”.  (Bill McCartney, Promise Keepers ’94, Seize the Moment Men’s Conference, Portland, junho 18, 1943, conforme registrado por Dagger, obra citada, p. 12).
         Vimos, portanto, como a igreja primitiva foi institucionalizada e corrompida pela introdução de todos os tipos de doutrinas, formas e tradições  questionáveis, tais como reuniões aos domingos e dias santos, Natal, Páscoa, Dia de Todos os  Santos, ou Dia de Finados, cuja véspera é conhecida como Halloween. A Igreja moderna tem-se tornado uma casa de comércio - quer seja das  indulgências da Igreja Católica Romana ou da licenciosidade da Meta-Igreja do “buscador amistoso”. Será que estamos seguindo a estrada estreita da verdade e auto-negação da cruz, ou a estrada larga da auto-atualização, da prosperidade e do comprometimento?  Será esta a  exata instituição que está nos levando a um novo nascimento ou nos conduzindo à grande apostasia? 

FONTE: http://www.desafiodasseitas.org.br/ 

obs: Lacaiato: grupo de leigos


A Igreja Primitiva - e os problemas



        A Igreja mais primitiva consistia quase exclusivamente de judeus, os quais continuaram a se encontrar nas sinagogas (especificamente para evangelizar o judeus)*. Quando examinamos o Livro de Atos e as Epístolas, vemos que o ramo judaico estava ligado à sua cultura e tradição. O Evangelho foi exclusivo esforço judaico até o capítulo 11 de Atos. Em Atos 10,  Pedro teve uma visão que o levou à casa de Cornélio em Cesaréia, a fim de ali pregar o Evangelho pela primeira vez aos gentios e estes receberam o Espírito Santo, exatamente como os judeus, no  Pentecostes. Atos está repleto de entreveros entre os que iam para os gentios (Paulo, Barnabé & Cia.) e os apóstolos originais e cristãos judeus, os quais queriam impor aos cristãos as suas tradições. Os cristãos gálatas estavam sendo escravizados pelas tradições judaicas. Paulo explicou que estas eram tão ruins como as tradições pagãs. A disputa deles não se referia às doutrinas, mas  à cultura e à  tradição. Antes de tudo, Paulo apressou os cristãos no sentido de conseguirem sua liberdade em Cristo (Gálatas 5:1). Em Colossenses 2:8 Paulo admoesta contra as regras e regulamentos:
         “Tende cuidado, para que ninguém vos faça presa sua, por meio de filosofias e vãs sutilezas, segundo a tradição dos homens, segundo os rudimentos do mundo, e não segundo Cristo”
 
            Finalmente, os apóstolos decidiram, sabiamente, permitir que os cristãos judeus agissem de um modo e os gentios do outro - a fim de melhor conservar a igreja gentílica  separada das tradições judaicas. Em Gálatas 2, Paulo descreve uma reunião com Pedro, Tiago, João, Tito e ele próprio, em Jerusalém, a fim de tratar da crescente tensão entre os dois grupos de crentes (Gálatas 2:1-11). Foi aí que decidiram que um grupo deveria ir para os judeus e o outro para os incircuncisos não judeus (verso 10). A igreja primitiva não foi edificada unida. Nem era o show de um homem só. Cada pessoa experimentava o Cristo vivo e todos participavam. Apóstolos, profetas, evangelistas, pastores e mestres eram dons da Igreja para a edificação dos santos (Efésios 4:11-12). Vinham de dentro da própria igreja Eles não eram especialmente treinados ou recrutados. Eram dons no funcionamento para a  edificação do Corpo. Essas não eram posições, mas funções. Eles não corriam atrás de sua própria edificação e poder, mas na edificação do Corpo de Cristo. A igreja primitiva cresceu espontaneamente. Embora alguns cristãos judeus antigos se reunissem nas sinagogas,  (especificamente para evangelizar o judeus)* durante algum tempo (esse foi um problema em termos de libertá-los do Judaísmo), na maior  parte das vezes eles se encontravam nos lares (Mateus 8:14-16; 26:8; 5:42; 8:3; 10:24-27; 16:40; Romanos 16:3; 1 Coríntios 16:40; Colossenses 4:5 e Filipenses 1:2, para nomear apenas alguns). Eles comiam juntos, partiam juntos o pão e viviam juntos. A igreja cresceu como fogo silvestre, sem o benefício de qualquer líder treinado em seminário ou escola bíblica, em programas de formação ou em programas formadores de missionários.
         Imaginem o caos nas reuniões da igreja primitiva. Não devem  ter sido tão espetaculares, com pessoas nada eloqüentes, música não tão boa e, mesmo assim, a igreja funcionava. Não havia expectadores, apenas participantes.  Todos compartilhavam, encorajavam, choravam, oravam, faziam comunhão e comiam juntos. Efésios 5:19 nos conta como eles viviam “Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração”. E a 1 Coríntios 14:26  diz: “... Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação”.
            A igreja primitiva era também uma Igreja perseguida - primeiro com os judeus perseguindo os cristãos e mais tarde com os romanos perseguindo ambos. Na história antiga os romanos consideravam o Cristianismo como uma seita judaica e por isso deixaram os cristãos em paz. As primeiras perseguições romanas foram desencadeadas por Nero em 64 d.C. Os cristãos eram considerados perigosos, politicamente desleais e sediciosos. Juntar-se a eles significaria morte certa. As verdadeiras perseguições não começaram propriamente até o século 3, quando o estado tentou trazê-los sob o seu controle.
O Livro de Atos e as Epístolas nos contam que a igreja primitiva se esforçava para manter-se fora das tradições judaicas, do pensamento grego e da religião pagã. Quando o primeiro século terminou, a igreja se conscientizou do erro, preservando o Evangelho e mantendo a unidade. Uma vez que a vida e a espontaneidade se foram, a organização tornou-se o único meio de os cristãos se manterem unidos. A  história ensina que as formas sempre seguiam a função e que uma vez criadas as formas, elas se concretizaram e se firmaram, adquirindo vida própria, até mesmo quando as funções originais desapareceram. Os profissionais começaram a tomar o poder. O precedente veio tanto do lado judeu como do gentio. Ambos estavam acostumados a uma casta profissional de sacerdotes.

FONTE: http://www.desafiodasseitas.org.br
*parenteses acrescentados por mim

O que é a igreja? É um edifício, um lugar onde se vai adorar?

O que é a igreja? É um edifício, um lugar onde se vai adorar? É uma corporação sem fins  lucrativos, à qual entregamos dólares, a fim de ficar isentos de impostos? Uma organização “para-igreja” é uma igreja? Quantas pessoas são necessárias para que haja uma igreja? Ela é uma igreja, quando se encontra numa escola? Nas matas? Em casa? É uma Igreja se não tem pastor? É uma igreja se não tem um nome? Então, o que é uma igreja? Não quero insultar a sua inteligência com isso, mas muitas pessoas estão confusas sobre estes itens.
        A resposta pode parecer óbvia a muitos, mas é uma questão extremamente importante por duas razões: 1) - A maioria dos cristãos não entende que se critique a sua igreja e 2) - Quando alguns se mudam da instituição são atacados [Saddleback] - não tanto porque o conceito de “igreja-casa” seja não bíblico, mas porque esse conceito é uma ameaça à igreja comprometida de hoje - a exata instituição idolátrica, da qual a Bíblia nos diz: “Sai dela, povo meu!” (Apocalipse 18:4).
         Um pastor em serviço disse que não deveria existir essa coisa de “igreja doméstica, a não ser que ela tivesse os cinco ministérios em ação”. Então o que dizer das igrejas que se reuniam nos lares do Novo Testamento? E das centenas de milhares igrejas na China? Será que cada uma delas tem cinco ministérios em ação? Que absurdo! Alguns dizem que uma igreja só pode ser organizada por um apóstolo. Mas onde estão os apóstolos? Novamente, não é apenas um absurdo, mas muito perigoso, pois esses tais apóstolos manipulam o  poder!
        Biblicamente falando, sabemos que a igreja não é um edifício nem uma organização. Ela se constitui de um povo chamado para fora [do mundo], nascido do Espírito Santo, o qual compõe o Corpo de Cristo. A igreja universal inclui todos os santos, no mundo inteiro, a partir dos últimos 2.000 anos. É fácil definir a igreja universal, mas o que se pode dizer da igreja local?
         A Igreja tem-se constituído, nos bons e maus tempos, dos “chamados para fora”, mas ela tem também apanhado uma porção de bagagem mundana, ao longo do caminho. Tendo em vista a natureza pecaminosa do homem, eu diria que a Igreja não tem evoluído através dos tempos, e, pelo contrario, tem-se distanciado cada vez mais do que Deus realmente pretendia que ela fosse. Algumas “formas” e “tradições” podem ter começado por muito boas razões - a fim de preencher específicas necessidades, em tempos específicos. Então, nessa cultura ela tornou-se institucionalizada e muitas vezes até mesmo racionalizada, como se isso fosse comandado por Deus e pela Sua Palavra. O fato é que essas práticas puramente culturais foram apenas levantadas pelos homens, como se fossem canonizadas por Deus.
         Há dois mil anos, Deus aboliu os sacerdotes e os edifícios. A Bíblia diz que todos nós somos reis e sacerdotes e que somos o Seu templo e o local de Sua habitação. Porém o homem tem a tendência natural de torcer o que Deus tem dito e de transformar as coisas, de modo que se desvie da substância e da vida divina. O homem é inerentemente religioso - desejoso de agradar um Deus distante e aterrorizador. Do mesmo modo como a nação de Israel exigiu um rei, em vez de aceitar o próprio Deus como sua exclusiva autoridade, a igreja trouxe de volta o sacerdote de tempo integral e as casas de adoração.
        Embora a instituição tenha tido muitas formas, o Senhor tem permanecido com a Sua verdadeira igreja - o filamento de ouro que tem avançado pela história - o qual tem sido eloqüentemente descrito em crônicas clássicas, tais como a “Miller’s Church History”. Mas a igreja verdadeira composta dos que são lavados no sangue do Cordeiro, dos que realmente conhecem o Senhor, tem existido sempre, “apesar de” e não “por causa” da instituição “igreja”.  Apocalipse 17 nos diz que a Igreja Prostituta, assentada sobre os sete montes (de Roma) e suas afiliadas, são mais responsáveis pelo sangue dos santos martirizados do que por tudo o mais (Apocalipse 17:3-9). Então, vamos dar uma rápida olhada na história da igreja.

FONTE: http://www.desafiodasseitas.org.br


A Igreja Primitiva - O que diz a Escritura?



        Nossas idéias sobre a igreja são formadas pela experiência, segundo crescemos e nos acostumamos. Assumimos exatamente a maneira de ser da ”igreja”, já que assim fomos acostumados a vê-la. O que realmente importa não é o que você e eu achamos, mas o que Deus acha. O que diz a Sua Palavra? Irmãos e irmãs, precisamos abrir nossas mentes e corações para “ouvir o que o Espírito diz às igrejas”. Não é simplesmente pelo fato de termos feito sempre as coisas de um certo modo que elas sejam necessariamente corretas, ou que sejam a maneira de Deus. Seria melhor seguir o Senhor do que seguir as tradições humanas. Existe uma inércia em todas as tradições religiosas e é natural que  resistamos às mudanças. Sentimo-nos confortáveis com a maneira de ser das coisas. A maioria dos cristãos nada vê de errado com as suas igrejas. Mas que se lembrem de que essas instituições tendem a nos mudar e moldar, em vez de qualquer outra coisa. Foram elas que nos transformaram no que hoje somos.
        Mas poderia este sistema eclesiástico ser o exato instrumento do nosso engodo? Deveria estar claro a cada pessoa que lesse o Novo Testamento que os primeiros cristãos não iam à igreja. Eles eram a igreja. O Templo Judaico foi substituído  porque  a igreja, ou seja, as pessoas são agora o Templo de Deus - um local corporativo de habitação e não uma estrutura de pedras. A reunião da igreja primitiva não era algo que as pessoas freqüentassem, mas o que elas eram, uma vida compartilhada entre elas. Ela não era dominada por um sermão nem  por uma só pessoa. O ensino bíblico era um aspecto, não o propósito central. A igreja primitiva nada tinha em comum com a instituição de hoje. Era uma grande família, uma dinâmica vida do Corpo, uma comunidade para se compartilhar e amar, onde cada pessoa participava em pé de igualdade.

        “E consideremo-nos uns aos outros, para nos estimularmos ao amor e às boas obras, não deixando a nossa congregação, como é costume de alguns, antes admoestando-nos uns aos outros; e tanto mais, quanto vedes que se vai aproximando aquele dia” (Hebreus 1):24-25).
         “Que fareis, pois, irmãos? Quando vos ajuntais, cada um de vós tem salmo, tem doutrina, tem revelação, tem língua, tem interpretação. Faça-se tudo para edificação” (1 Coríntios 14:26).
         “Falando entre vós em salmos, e hinos, e cânticos espirituais; cantando e salmodiando ao Senhor no vosso coração” (Efésios 5:19).
         “A palavra de Cristo habite em vós abundantemente, em toda a sabedoria, ensinando-vos e admoestando-vos uns aos outros, com salmos, hinos e cânticos espirituais, cantando ao SENHOR com graça em vosso coração” (Colossenses 3:16).
         A característica principal da igreja primitiva era a mutualidade - cada  um participando na edificação do outro. Exceto em casos especiais, a reunião era uma experiência corporativa. Não era dominada por um clero profissional, por um grupo especial de adoração musical, ou por um líder de adoração. Cada crente levava algo para a reunião e tinha liberdade de compartilhar com os demais, através do seu dom espiritual. O sermão não era o centro da adoração.  Não havia um boletim programando a “ordem da adoração”, dizendo quando se devia levantar sentar, cantar,  orar ou escutar. Em vez disso, o Espírito de Deus exercia o controle absoluto, movendo-se livremente entre os membros do corpo. A frase “de um para o outro” é usada 60 vezes no Novo Testamento. Eles [os cristãos] estavam ativamente envolvidos na edificação mútua. Isso é muito diferente dos chamados ministérios disponíveis hoje em dia - de falar, de cantar no coro, de limpar o “santuário” ou manusear transparências. A igreja primitiva era um organismo vivo - o Corpo de Cristo - não uma organização ou instituição.
         Ela confiava plenamente na vida espiritual dos membros individuais, se eles tinham uma vida de vibrante relacionamento com o Senhor, sendo as reuniões ricas expressões de suas experiências. Se não tinham, as reuniões terminavam. Ao contrário da adoração no Templo dos judeus e dos pagãos, a igreja primitiva se reunia principalmente nas casas (Atos 2:46; 8:3; Romanos 16:3-5; 1 Coríntios 16:19; Colossenses 4:15; Filipenses 1:2; 2 João 10, etc.) Se existe um tipo de igreja do Novo Testamento, essa é a igreja doméstica. Ela é mencionada como uma “família” e como a “Casa de Deus”. Quando se fala em comunidade, eles de fato a viviam. O lar é o estabelecimento natural para a comunicação entre os membros, para  o companheirismo e para ali se fazerem as refeições em conjunto. Gálatas 6:10 refere-se aos  “domésticos da fé.”
Efésios 2:19 diz “Assim que já não sois estrangeiros, nem forasteiros, mas concidadãos dos santos, e da família de Deus”.  Efésios 3:15 diz: “Do qual toda a família nos céus e na terra toma o nome”
 
            Se os primeiros cristãos seguissem a tradição, eles teriam se reunido nos templos, conforme o faziam os judeus, (o que não era o desejo de Cristo para sua igreja.)*. Houve um conflito com os judaizantes, os quais queriam impor uma  igreja igual à dos judeus, mas o Senhor Jesus e os apóstolos sempre lutaram contra isso. Jesus não estava estabelecendo uma nova religião, mas uma relação vertical e horizontal com Ele próprio, o indivíduo cristão e o corpo corporativo. A igreja é descrita em termos orgânicospredominantemente nos lares.
        Houve muitas forças contrárias agindo para levar o adorador aos “templos sagrados” - os judaizantes, que teriam transformado a igreja numa seita judaica, com as pessoas adorando nas sinagogas - e os gregos modernistas e os romanos adorando nos templos. Era uma inclinação natural do homem organizar e institucionalizar, de modo que a igreja começou a se apartar da “simplicidade que há em Cristo”. Finalmente, o Imperador Romano Constantino transformou o Cristianismo na religião oficial de Roma.  Poderia vir alguma coisa boa do amálgama de igreja e estado? A partir de Constantino, a igreja foi se transformando maciçamente em edifícios e o clero profissional tomou conta da maior parte da significativa função “espiritual”, e o testemunho da igreja terminou.
        Hoje em dia, a maioria confunde a “igreja” com o “santuário”, o edifício. Os judeus possuem edifícios para a adoração corporativa (sinagogas) e assim  também fazem  os pagãos em seus santuários e templos. Ambos ensinavam que esses eram locais santificados para a adoração divina. Mas isso não acontecia no Cristianismo. A igreja primitiva costumava se encontrar na intimidade dos lares. Poderia ter sido natural que eles se reunissem em edifícios, porém não o fizeram e não apenas em razão das perseguições, pois estas não aconteceram antes do século 3. Deus queria que o Seu  povo tivesse um local de habitação. Ele não queria que este O adorasse num “santuário sagrado”, pois as pessoas eram o próprio templo, o Seu local de habitação - não um edifício.
        A Igreja primitiva não conhecia as organizações ... isentas de impostos, com profissionais remunerados, com uma casta especial de clérigos elevada acima dos outros cristãos, em posições oficiais. O líder da igreja era simplesmente um dos irmãos. Os dons do ministério para o corpo vinham de dentro - não eram recrutados em pesquisas nacionais. A liderança e todas as funções eram locais. A liderança era em termos de função, não de posição - um ofício formal. Eles eram “líderes servos” que dirigiam norteados pelo exemplo e protegidos pelo amor. Os pastores e anciãos do Novo Testamento não operavam como executivos, presidindo alguma empresa religiosa. Não procuravam os conselhos de consultores sobre como arrecadar dinheiro para programas de construção e desenvolvimento de estratégias de crescimento. Liderar não era fazer o ministério, mas dar aos santos o poder de trabalhar no ministério (Efésios 4:11-16) e protegê-los do engodo, do erro (Tito 1:7-14), não governar sobre eles ou criar uma passiva dependência.
        Como Al Dager explica:
         “A Igreja do Novo Testamento, isenta de uma classe especial de clero, dependia apenas da Escritura e do Espírito Santo para guiar uma pluralidade de liderança entre os homens piedosos, sendo este um processo de renascimento” (Mídia Spotlight, Vol. 17, no. 2 p. 8).  Ele prossegue, dizendo:
         “Isso não agrada muito as pessoas religiosas ... especialmente líderes religiosos... que gozam de preeminência entre os rebanhos. A crítica vai abundar, embasada em elementos tipo ‘não eruditamente’... especialmente  anciãos... que não levam iniciais diante dos seus nomes, os quais não usam o tratamento de “reverendo”, “bispo”, “reverendíssimo”  (Ibid, p. 8).
Ele prossegue observando que “O estabelecimento religioso não é exatamente reconhecer a liderança espiritual dos homens ‘não credenciados’. “O nome do jogo para o estabelecimento religioso é controle e auto-glorificação” (Ibid, p. 8). Existe pouco respeito pelo laicato*, o qual deve depender do clero para protegê-lo e alimentá-lo. Será?

 * parênteses acrescentado por mim


Lacaiato: grupo de leigos




FONTE: http://www.desafiodasseitas.org.br